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A cinquentona

A cinquentona Bárbara Sanco 03.01.2023 O desejo de criança era ser mágica. O espiritual, o místico, o transcendental, o imponderável, o fantástico cedo me atraíram. Sempre quis ser mais do que o corpo permite, elevar-me, expandir-me, conectar-me ao todo, voltar para casa naquele pequeno e desconhecido anel de Saturno. Mora em mim uma insatisfação por fazer mais, por ser melhor, uma sede de alçar plenitudes. O hálito divino está na carne, é metal contra as nuvens, rock do bom, é louvor, é sopro quente na nuca do amor e o pulso ainda pulsa aos cinquenta que parecem quinhentos. Vivi tanto e até morri às vezes, mas respirava profundamente ao terceiro minuto.  Pequei por amar demais e ainda choro lembrando da forja que marcou o osso e a alma. Tive filhos, ah filhos, milagres de aprendizado infinito, amor incondicional e hoje orgulho imenso daqueles que são meus mais belos poemas. Continuo plantando árvores e escrevendo livros. A missão por aqui ainda não terminou. Quero trocar a roupa e viv

Nascer

Nascimento envolve força, dor, coragem e ao mesmo tempo júbilo, comemoração, esperança. Impedi-lo é tentar conter o curso do rio caudaloso da vida. Mesmo assim o fazemos. Quantas vezes dizemos não ao que somos merecedores? Quantas vezes nos vemos como descartáveis e sem importância? Quantas vezes não nos consideramos dignos de sermos amados? Será que há saída? Quem deve ser salvo? Há redenção? As perguntas pululam, a mente ferve em conflitos e dúvidas, o coração parece estar cheio de um incômodo nada e dói. Qual é nosso propósito? Qual é a verdade? Cristo é a verdade e a vida. Ele tem todas as respostas. Sua mensagem de amor está pronta para nascer mais uma vez no coração daquele que permitir. Ele não se impõe, apenas está aqui e quer evocar nossas virtudes, nossos melhores sentimentos e nossa fé. Não importa se nos perdemos ou simplesmente se somos céticos. Importa aceitar o amor, envolvo na bela história de um menino que nasceu em Belém e nos deu sua vida. O verbo encarnado vai bater

Carta de aniversário para Artur

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21.04.2021 Filho, Há músicas que a gente ouve e parece que foram escritas pensando em nós. Tu já não tiveste essa sensação? Quando eu era adolescente parecia que todas as bandas da época escreviam para mim. Era bom esse sentimento de saber que existe alguém que sente o que você sente e do jeito que você sente. Mas o tempo passou e as músicas começaram a mandar outras mensagens além da empatia. Comecei a ouvir notas que cantavam para teu irmão e para ti. O inusitado é sentir que o Marcelo Campelo e tantos outros roubavam as palavras que eu não sabia que eram minhas, como nessa letra. “De onde vem a calma daquele cara? Ele não sabe ser melhor, viu? Como não entende de ser valente? Ele não sabe ser mais viril Ele não sabe não, viu? E às vezes dá como um frio É o mundo que anda hostil O mundo todo é hostil” O mundo é mesmo muito hostil e eu queria deixar meu bebê no ninho, proteger-te de todos os perigos, mas o certo é soltar-te no mundo, preparar-te para a guerra de ser autêntico e então

Sobre minha mãe...

  Hoje é onze de fevereiro de 2021. Em meio a uma pandemia que mudou a face do mundo. Ainda não vivemos a realidade de 2001 – Uma odisseia no espaço, mas estamos perto, muito perto. Fico pensando na cadeia de acontecimentos que nos trouxe até aqui e é impossível não ser grata por viver e poder comemorar, tantas e tantas vezes, a felicidade que aprendemos a encontrar na certeza do bem estar dos amores. Eu, que sou uma pessoa de fé, agradeço a Deus. Por minha vida que veio da vida de minha mãe, que hoje comemora a sua própria vida. Sem ela eu não estaria aqui e mesmo que eu tivesse encontrado alguma boa alma para me gerar eu não seria eu. Há muito dela em mim. As coisas boas, principalmente. As frases comezinhas. - Deixa que eu faço! - Vai dar certo! - `Vamos ver o lado positivo! - Eu te amo! A herança de fé, o amor à família, à dedicação ao que se faz, o exercício da paciência. Mas, além desses valores que partilhamos, há em minha mãe uma exclusividade plena, uma singularidade admirável

Para minha mãe 08.03.2014

Dizem por aí que toda vez que dedicam um dia especial para um tipo de pessoa é porque há nessa intenção a tentativa de abrandar o muito de descaso, preconceito ou sofrimento, de qualquer ordem, que a sociedade já tenha impingido naquela direção. Pode ser... As mulheres já foram alvo de toda sorte de obrigações, humilhações, já foram consideradas menos inteligentes, incapazes perante a lei, propriedade de seus maridos. Mas acredito que essa não é a única faceta dessa homenagem de hoje. Sou crédula no humano, me reabasteço de esperança na humanidade. Creio que as mulheres não são mais do que os homens, mas também não são menos. A luta pela igualdade dos sexos trouxe vitórias, é verdade, mas também trouxe acúmulo de tarefas, enfartos precoses, novas doenças e alguns abandonos. O mito da mulher POLVO que borda, cozinha, se enfeita, cria filhos e é excelente profissional e esposa aos poucos vai sendo superado. Algumas mulheres já idealizam sua vida desejando atingir menos metas, algumas já

Isto não é uma explicação

Há quem diga que pingo é letra, que para bom entendedor uma palavra basta e que silêncios dizem muita coisa. Eu discordo, não só porque pareço, ainda que sem querer na maioria das vezes ao menos, ter me aperfeiçoado em desapontar as pessoas; mas discordo, principalmente, porque gosto das coisas ditas. As coisas não ditas abrem um manancial infinito de interpretações e eu primo pelo fato de ser entendida. Aposto no diálogo como solução magistral de conflitos. Recomendo e tento sempre a pratica de conversas que ora são boas, ora não são. Mas mesmo das más sou fã. Se alguém não gosta de mim ou do que eu faço e se emburra em silêncio ou desfere pingos para que eu o entenda se frustra. De mim não ouvirá palavra, mas se me xingar e disser tudo que lhe vai ao coração ou ao estômago ganhará meu respeito. Posso, eventualmente, me magoar, o que não ocorre com frequência, mas quando ocorre passa em zás-trás, contudo é sempre melhor ouvir a verdade, ainda que cruel, que pairar no limbo de não sab

A caixa está vazia

Ele quebrou. Quebrou por dentro, como as pessoas se quebram quando sofrem traumas amorosos, decepções, perdas de importância emocional. Ele parecia bem, ou ao menos eu achava que duraria mais algum tempo. A aparência era enganosa e eu ignorei propositadamente os sinais. Ele não carregava a bateria com a mesma rapidez e quando carregava a carga se esvaia. Eu levava o carregador por toda parte e dizia que ele estava viciado, mesmo sabendo que esses aparelhos já não se viciam em energia como antes. Somos nós que nos viciamos. Eu não queria ver que a resistência dele em responder a minha digital e aos comandos dados por meus dedos em sua tela eram um sintoma de que seu processador estava com os dias contados. Mas a gente também faz isso nos relacionamentos... Confiante na ilusão perene eu salvei nele minhas melhores fotos, os prints das mensagens mais lindas, meus contatos, os históricos de minhas conversas, mormente as pandêm